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Entrevista com Diego Eis, fundador do site Tableless.com.br e um dos principais disseminadores dos Padrões Web no Brasil.

Essa entrevista faz parte de uma série de entrevistas com alguns dos principais nomes da TI no Brasil.


Bugginho: É impossível pensar em Web standards no Brasil e não lembrar do site Tableless, ele certamente é um dos melhores sites com esse tipo de conteúdo em nosso país e já ajudou milhares de desenvolvedores. Conte um pouco sobre como surgiu a ideia do site e quais os planos para o futuro.

Diego: Puxa, é interessante ouvir isso sobre o site. Até hoje me custa entender que o site teve parte importante com a divulgação dos Padrões Web no Brasil. Manja Síndrome do Impostor? Pois é... Eu sempre digo que tive sorte de fazer esse blog no momento certo. :-D

A ideia inicial era de um blog para mostrar o que eu estava aprendendo sobre os Padrões Web e como fazer websites decentes, com código limpo, semântico e seguindo os padrões do W3C. Um monte de gente estava aprendendo o mesmo que eu começou a visitar o site e a seguir as postagens. A partir daí o site começou a crescer, eu comecei a me aprofundar mais ainda no assunto e o resto é história. Hoje os padrões web já estão disseminados no Brasil e no mundo, mas o assunto “desenvolvimento web” é bastante rico e por isso o site se concentra em publicar conteúdo sobre desenvolvimento e design, envolvendo código, novas tecnologias, mercado etc...

Sobre o futuro, pra falar a verdade, eu não tenho ideia. O site dá muito trabalho. Eu tenho umas ideias mas preciso de tempo para executá-las. Vamos ver o que vai rolar em 2017.


Bugginho: Muitos desenvolvedores quando estão iniciando acabam tendendo mais para o Back-end. Conte um pouco da sua trajetória como desenvolvedor e o que fez você focar em front-end.

Diego: Eu comecei minha vida na web como desenvolvedor front-end. Como gosto mais do lado de design, eu não me aprofundei muito em linguagens back-end, mesmo por que, quando iniciei, as áreas eram bem separadas, não era como hoje onde os papeis se misturam e cada vez mais não existem diferenças entre os dois tipos de desenvolvedores (o que é muito bom, na minha opinião).

Eu abri uma empresa quando tinha 22 anos e depois daí, não programei durante muito tempo. Até hoje sigo mais para parte de gestão. Contudo, faço alguns projetos paralelos onde consigo ainda me manter perto do código. Mesmo assim, estou a maior parte do tempo apenas lendo sobre as novidades do que executando algo novo.

Hoje em dia, o perfil de front-end está mudando bastante. Na minha opinião daqui uns 5 anos não haverá mais front-end, mas a área de web vai se dividir em duas grandes áreas: Design e Programação. Se você é um front-end que adora CSS e gosta de coisas bonitas, você vai estar na área de Design, aprendendo sobre UX, aperfeiçoando seu gosto visual, e se aprofundando em CSS e outras tecnologias de programação visual. Se você gosta de NodeJS, AngularJS e coisas desse tipo, provavelmente vai ficar pro lado de programação, aprendendo mais de uma linguagem back-end e se aprofundando mais seus conhecimentos em infra, banco de dados e coisas desse tipo.

Não haverá mais front-end de sites estáticos, que passam para HTML o layout que o Designer desenhou e manda para o back-end o código HTML/CSS/JS estático para ele programar em cima. Isso aí só vai fazer sentido para empresas que querem terceirizar uma das fases de desenvolvimento.


Bugginho: A Locaweb é uma das empresas mais amadas e mais odiadas da TI brasileira, porem, até mesmo quem a odeia admite que é uma empresa fascinante, que investe bastante em tecnologia e que cresceu muito ao longo de sua trajetória. Como você foi parar na Locaweb e como é trabalhar lá?

Diego: Eu fui chamado na Locaweb logo depois que larguei minha empresa e fui procurar novos desafios. A Locaweb me contratou para criar uma área de front-end na empresa, que até então só tinha UX e times de programadores. O fluxo era muito engessado, baseado no modelo de Waterfall, onde o UX manda seus PSD (Photoshop) para os programadores back-end, que por sua vez não tinham ideia de como implementar o código front-end desses layouts. Muitas vezes eles acabavam terceirizando esse trabalho com a Índia (sim, era horrível).

Eu geri durante uns dois anos um time de front-end, onde implementamos todo um padrão de código, uma cultura de front-end e um criamos um framework para a empresa construir seus produtos.

Hoje nós estamos caminhando para um formato onde teremos equipes cada vez mais autônomas, independentes, com todas as especialidades que precisamos para manter um produto. Logo, o time vai ser composto por pessoas que são especialistas em UX, Front-end, Back-end, SysAdmin, talvez QA etc… Esse caminho faz mais sentido para desenvolvimento de software, por que até em um Apocalipse Zumbi você conseguirá manter seu produto por mais tempo.

Trabalhar na Locaweb é muito, mas muito bom. Embora não tenha a pressão diária que a maioria das empresas tem, nós temos desafios gigantes. Se você é uma pessoa pró-ativa, lá terá milhares de oportunidades para se envolver, dentro e fora da área de desenvolvimento. Não vou dizer que não existem problemas, por que existem vários. Mas é para isso somos contratados: resolver problemas e melhorar nossos produtos para satisfazer os clientes.


Bugginho: Por muitos anos muitas empresas não davam muita atenção para a camada front-end. Hoje em dia a coisa mudou de figura e o desenvolvedor front-end se tornou peça fundamental para o sucesso de muitos projetos. Como você vê o mercado de trabalho para desenvolvedores Front-end no Brasil e quais dicas você dá para quem quer focar nessa área?

Diego: Como eu disse anteriormente: na minha opinião, front-end que só faz código estático, baseado no velho estilo waterfall, não vai mais existir.

Se você ver, a maioria das empresas estão trabalhando com micro-serviços, onde toda a comunicação entre as apps é feita por meio de APIs. O front-end que irá consumir essa API trabalha lado a lado do back-end para definir o formato de reposta dos endpoints, além de que grande parte da lógica do produto fica do lado de front-end, que será baseada, muito provavelmente, em tecnologias como AngularJS, EmberJS, NodeJS puro etc. Esse tipo de front-end, é na verdade, um programador. Hoje muitos programadores back-end estão se aprofundando em JavaScript exatamente para suprir essas necessidades.

Há outro lado mais ligado à área de design, que vai implementar os layouts produzidos pelos designers em HTML, CSS e JS. Esse cara vai ser um desinger/ux, especialista em UI. Seu trabalho não será apenas codificar código front-end, mas participar de todo o processo, ajudando a definir o fluxo das ações do usuário, produzindo wireframes, fazendo protótipos… É um perfil totalmente diferente do cara que recebe um Photoshop e implementa HTML, embora isso também será parte do seu trabalho.

Pra mim, todo programador back-end deveria aprender profundamente JS e as tecnologias que orbitam em volta dessa linguagem. E todo designer deveria aprender HTML e CSS para implementar e produzir seus próprios layouts.

Minha dica é: tente saber do que você gosta mais. Ou você está mais ligado a parte visual da coisa ou para a parte mais lógica. Tem espaço para todo mundo. No meu caso, estou muito mais pro lado visual da coisa.


Bugginho: Por muitos anos o jQuery reinou na web e era quase que uma obrigação saber trabalhar com ele. Mesmo ainda sendo muito utilizado hoje em dia e tendo um foco diferente, o jQuery acabou perdendo espaço para ferramentas como React, Angular, Vue, etc... Como você vê o futuro do jQuery no atual cenário do desenvolvimento web moderno?

Diego: Então… o uso de tecnologias como React, Angular e etc não tem nada a ver com o uso do jQuery. Você pode usar o jQuery com todas essas tecnologias.

O jQuery se popularizou exatamente num momento onde o JS era praticamente incompatível entre os browsers. O que você fazia em um browser, não funcionava em outro. Além disso o CSS também era muito incompatível. Você não conseguia usar muito bem, por exemplo, todos os seletores do CSS. Logo, manipular CSS e manipular vários elementos no DOM com jQuery se tornou padrão, já que ele acabava com o problema de incompatibilidade entre os browsers e o JS/CSS. Sem o jQuery nós nunca teríamos no JS o document.querySelectorAll ou a manipulação com classes com Element.classList.

Você consegue ver mais detalhes sobre esses problemas num post de 2005, escrito pelo John Resig: http://ejohn.org/blog/selectors-in-javascript/

O que eu sugiro: não use jQuery para tudo. Para projetos grandes, eu acho que vale muito a pena. Mas para projetos pequenos, um site pequeno, um blog, site institucional, coisas assim, talvez não precisamos usar jQuery. Geralmente as coisas são bem triviais de implementar, como uma modal uma manipulação de classe aqui e ali. Isso faz com que em projetos grandes, com manipulações mais densas de interface e outras tarefas, o jQuery é um grande aliado. A Lea Verou tem um artigo muito interessante sobre isso tudo: http://lea.verou.me/2015/04/jquery-considered-harmful/

Eu escrevi outro bastante polêmico: Considere não usar jQuery: http://tableless.com.br/considere-nao-usar-jquery/

O jQuery não vai morrer. Ele pode se transformar, mas ele não vai morrer.


Bugginho: O Flash era uma ferramenta fantástica e tinha uma proposta muito bacana para a época, porem alguns desenvolvedores abusavam e acabavam utilizando o Flash até mesmo onde não precisavam. Você sente que o mesmo está acontecendo com Single Page Application? Qual conselho você dá para quem usa e abusa de SPA sem analisar se o escopo do projeto pede aquilo?

Diego: Não seja babaca e aja como um desenvolvedor maduro e pergunte-se: o que eu quero melhorar usando SPA?

Tem gente que usa SPA para fazer sites de conteúdo. Cara, para que? Um site SPA faz muito sentido em sistemas que realmente executam muitas ações em uma mesma página. Eu coordeno um time do Criador de Sites, um produto na Locaweb onde o cliente faz seu próprio site, usando escolhendo cada módulo que o site terá. O sistema é baseado em Drag’n Drop. Esse sistema PRECISA ser um SPA. O cliente executa uma série de ações que precisam ser salvas no momento executado, sem sair da tela e sem fazer refresh na página. Não dá para imaginar um sistema como esse sem ser SPA.

Esse esquema de SPA (antes chamado erroneamente de sistemas Ajax) se popularizou depois que o gMail nasceu, onde nenhum refresh na página era feita e ele usava e abusava do XMLHttpRequest… Nesse tipo de sistema faz todo sentido usar essas novas tecnologias para criar um ambiente SPA. Mas pra fazer a maioria das coisas, a maneira mais tradicional é a mais eficiente.

Tem desenvolvedor fazendo questão de deixar de aprender linguagens como Ruby, PHP ou qualquer outra linguagem back-end tradicional, para aprender a trabalhar com Angular, Ember e etc, como se essa tecnologias fossem substituir o mundo… esses caras não sabem de nada.


Bugginho: Existem cursos de pós-graduação e cursos CST que focam muitas disciplinas em Front-end, mas os principais cursos da área de tecnologia (Sistemas de informação, Ciência da computação, Engenharia de software, etc...) acabam não dando tanta atenção ao desenvolvimento front-end. Mesmo assim você acha importante para quem quer trabalhar com front-end fazer um desses cursos?

Diego: Sim. Lembrando que você precisa entender qual lado você gosta mais e tem mais talento. Se está pro lado do design, seria muito melhor fazer um curso de Design ou algo parecido. Se gosta mais pro lado de lógica e programação, acabe atacando cursos que te farão crescer nesse sentido.

Se você gosta da área, mas não quer codificar a vida toda, já se adiante e vá se focar em cursos que te ajudarão na área de gestão.

A ideia é você ter uma visão de futuro. O mercado de internet muda o tempo inteiro. Por isso, você não pode pensar em 1, 2 ou 3 anos… Pense sempre o que você vai querer fazer dali 5, 10 anos… é preciso ter um plano, que deverá ser revisitado de tempos em tempos. Você pode mudá-lo o momento que for. Mas você precisa de um plano.

Temos o privilegio de trabalhar em um mercado que há espaço para praticarmos centenas de profissões. Você pode ser programador, ou pode trabalhar com BI, ou pode trabalhar com Marketing, ou pode ser SysAdmin, ou pode ser Gestor… Há uma série de outras áreas que você pode atuar. Até a área de RH tem desafios totalmente diferentes de outros mercados.


Importante: Essa entrevista foi gentilmente cedida por Diego Eis para veiculação na página "Bugginho Developer". Caso queira replica-la, não esqueça de pedir autorização ao mesmo para tal.


Você pode conhecer um pouco mais e acompanhar o trabalho de Diego Eis nos links abaixo:

http://tableless.com.br/

http://diegoeis.com

https://twitter.com/diegoeis

Espero que tenham gostado tanto quanto eu e até a próxima, amiguinhos!!! ;)